Brincar na natureza
- cecgodoyviagem
- 14 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de out.

Brincar na Natureza
A infância tem um jeito único de se tornar eterna. São as pequenas aventuras, as descobertas silenciosas e os momentos de encantamento que ficam gravados para sempre.
No sítio da minha família, a natureza não era apenas o cenário das brincadeiras — era o coração delas. Cada canto do pomar, cada trilha de terra, cada árvore carregava uma promessa de diversão, aprendizado e magia.
Ali, aprendi a esperar uma semente brotar, a reconhecer o canto dos passarinhos e a me maravilhar com o simples. Essas experiências despertaram em mim o desejo de ser biólogo — e continuam guiando meu propósito de vida: levar as crianças até a natureza ou levar a natureza até as crianças.
Aventuras inesquecíveis na natureza
As brincadeiras ao ar livre marcaram minha infância e moldaram meu olhar para o mundo. Cada uma delas traz uma lição que continua viva até hoje — lições sobre paciência, curiosidade, empatia e encantamento.
Explorar o pomar em busca de frutas e vida selvagem. Durante o dia, o pomar era um dos locais preferidos. Eu andava entre as árvores à procura das frutas mais maduras, mas o mais divertido era observar os passarinhos e macaquinhos que também vinham saborear os frutos. Eles eram meus companheiros silenciosos, e eu, o explorador fascinado que já sonhava ser biólogo
Deitar na grama à noite para observar estrelas e vagalumes. As noites no sítio eram um espetáculo à parte. Eu me deitava na grama e ficava horas olhando o céu estrelado, tentando identificar constelações. Às vezes, os vagalumes piscavam ao meu redor, como pequenas estrelas que haviam descido à Terra e brincavam de pega-pega.
Passar o dia na margem da lagoa observando os animais. A lagoa era meu refúgio. Lá, eu sentava na margem e ficava observando os peixes que nadavam tranquilamente, as aves que vinham se refrescar ou pescar e, de vez em quando, algum outro animal inesperado. Era como assistir a um documentário sobre natureza, ao vivo.
Caminhar pelas estradas de terra em busca de aventuras. As estradinhas de terra que cercavam o sítio do eram minha trilha para aventuras imaginárias. A poeira nos pés e o cheiro da terra úmida depois da chuva eram parte do encanto. Cada curva escondia uma nova história de descobertas sobre seres ou fenômenos curiosos.
Construir represas na enxurrada em dias de chuva. Quando a chuva caía forte, eu saía correndo para brincar na enxurrada. Adorava construir pequenas represas com pedras, galhos e lama, observando como a água encontrava novos caminhos. Era a minha aula prática de engenharia natural!
Plantar sementes e mudas e acompanhar seu crescimento. Plantar era um ritual especial. Enterrar uma semente no chão e depois acompanhar seu crescimento ao longo dos anos me ensinou sobre paciência e esperança. Até hoje, sinto orgulho das árvores que nasceram dessas brincadeiras.
Procurar ninhos e acompanhar o crescimento dos filhotes. Eu adorava procurar ninhos de passarinhos, sempre com muito cuidado para não assustar os pais. Era mágico acompanhar o crescimento dos filhotes, do momento em que eram pequenos e frágeis até o dia em que se lançavam ao voo pela primeira vez.
Explorar o pomar à noite, em busca de corujas e outros animais. À noite, o pomar ganhava uma atmosfera diferente. Mesmo com um certo medo, eu caminhava na escuridão à procura de corujas e outros animais noturnos. Cada barulho era um mistério a ser desvendado.
O que essas memórias me ensinaram
Essas experiências não foram apenas brincadeiras. Foram minhas primeiras aulas de Ciências da Natureza — uma educação sensível e profunda que a escola pode (e deve) resgatar.
Aprendi a observar, formular perguntas, comparar fenômenos e buscar explicações — sem livros, sem provas, apenas com o coração aberto e os sentidos atentos. Aprendi que investigar é também se encantar, e que toda criança é, por natureza, uma pequena cientista.
“A curiosidade é a semente da sabedoria. E brincar na natureza é a melhor forma de plantá-la.”
Como proporcionar experiências de natureza hoje
Brincar na natureza não pertence ao passado. Pais, professores e avós podem — e devem — criar oportunidades simples e seguras para que as crianças se reconectem ao mundo natural.
Para famílias
Escolha um dia fixo da semana e crie uma rotina de contato com a natureza — pode ser o "Domingo do Quintal" ou a "Manhã Naturalista". Leve as crianças a um parque, praça ou jardim. Observem, desenhem, fotografem, ouçam os sons e anotem as descobertas em um pequeno "Diário da Natureza". Não é preciso nada sofisticado — apenas tempo e presença.
Para professores
Transforme o pátio, o canteiro ou o jardim da escola em um espaço pedagógico vivo. Permita que as crianças observem, identifiquem, desenhem, descrevam, comparem, classifiquem, expliquem e justifiquem fenômenos.
Ofereça múltiplas formas de expressão: desenhos, dramatizações, vídeos, maquetes, registros sonoros ou textos curtos. Cada criança aprende e comunica à sua maneira — e todas podem participar ativamente da investigação científica.
Um novo olhar sobre o brincar
Brincar na natureza é mais do que se divertir: é reconectar-se ao planeta. É aprender a cuidar da vida, compreender os ciclos e cultivar empatia pelos seres ao redor.
Não exige tecnologia, apenas sensibilidade. Não requer espaço amplo, apenas atenção. Não custa nada — mas vale tudo.
“Quando uma criança brinca com a natureza, ela aprende sem perceber — e ensina o mundo a cuidar dela.”
Convite à ação
Que tal sair e descobrir a magia que está logo ali — no quintal, na praça ou no parque mais próximo? Leve uma lupa, um binóculo, um caderno e um olhar curioso. Deixe a natureza ser sua professora e a infância, sua guia.
A natureza sempre tem algo incrível a nos ensinar. E é brincando com ela que as crianças aprendem, de verdade, a amar o mundo.
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Texto inspirado em memórias de minha infância, nas ideias de educadores que marcaram a minha vida, e também nos momentos que compartilhei com crianças investigando e cuidando da natureza.
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Podcast Sons da Natureza