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A Ciência começa na contemplação da natureza

  • cecgodoyviagem
  • 1 de dez.
  • 4 min de leitura
Crianças contemplando a natureza. Imagem feita com IA.
Crianças contemplando a natureza. Imagem feita com IA.

A Ciência começa na contemplação da natureza

Antes de existirem as investigações em laboratório, existia o observar a natureza.

Uma criança ajoelhada diante de uma poça d’água, observando o reflexo do céu. Outra observando a semente que caiu no solo germinar. E mais uma observando as ondas do mar quebrando na areia repetidamente. Esses momentos de contemplação da natureza, de encantamento com fenômenos naturais cotidianos, marcam a origem do pensamento científico.

A Ciência não começa no laboratório — começa no espanto diante do mundo. Antes de medir, comparar e classificar, é preciso olhar demoradamente, sentir profundamente e se maravilhar sinceramente.

Toda pergunta científica nasce de uma emoção: o desejo de compreender o que nos fascina. Ao observar a natureza com atenção, é possível perceber padrões que se repetem, ou discrepâncias inesperadas. Nesse momento de curiosidade, surgem as perguntas. Surge a vontade de ir em busca de respostas. Surge o pensamento científico.


Contemplar é o primeiro gesto científico

Quando uma criança se detém para observar uma formiga, ouvir o canto de um pássaro ou seguir o rastro da água após a chuva, ela está praticando o que há de mais essencial na Ciência: a observação atenta.

Richard Louv chama isso de “antídoto para o transtorno de déficit de natureza”. Segundo ele, o contato direto com o mundo natural devolve à criança o direito de se encantar — e o encantamento é o primeiro degrau do conhecimento.

A criança que observa o mundo aprende mais do que conteúdos: aprende a estar presente. Aprende que cada coisa tem um ritmo, um tempo, um papel. E, sem perceber, aprende sobre si mesma — porque observar o mundo é uma forma de se compreender.


O olhar que aprende

Maria Montessori dizia que a observação é o ponto de partida de toda aprendizagem verdadeira. Ela via a criança como uma cientista em potencial — alguém que precisa tocar, explorar, errar, tentar de novo.

Quando oferecemos tempo e espaço para que ela contemple, estamos cultivando a raiz de todas as competências humanas: atenção, curiosidade, paciência e empatia.

Em vez de entregar respostas, o adulto que educa pode devolver perguntas:

“O que você percebe?”“O que mudou desde ontem?”“Por que você acha que isso acontece?”

Essas perguntas simples abrem portas imensas. Cada uma delas ensina a pensar. Ensina a investigar. Ensina a refletir sobre o próprio saber.

E é assim que a contemplação se transforma em conhecimento — conhecimento sobre o mundo exterior e também sobre o mundo interior.

É aí que nasce a Ciência.


O olhar que protege

David Attenborough passou a vida nos lembrando de algo essencial: só protegemos o que amamos, e só amamos o que conhecemos.

Ao convidar uma criança para observar um passarinho, um inseto ou o nascer do sol, estamos fazendo muito mais do que ensinando sobre a natureza — estamos cultivando empatia. Empatia pela vida, pelos ciclos, pelas pequenas existências que sustentam a nossa.

A contemplação desperta a consciência ecológica de forma natural. Não é preciso uma aula sobre sustentabilidade para que uma criança aprenda a respeitar a vida. Basta uma manhã observando um caracol atravessar uma folha, ou uma tarde vendo o vento balançar as árvores. Quem contempla, aprende a cuidar.


O que acontece quando a criança contempla

Quando uma criança contempla a natureza, algo poderoso acontece dentro dela:

  • O olhar desacelera. O mundo deixa de ser uma sucessão de estímulos rápidos e se torna uma paisagem de detalhes e descobertas.

  • A mente se organiza. Ela aprende a observar, comparar, registrar — desenvolvendo o pensamento científico e a concentração.

  • O coração desperta. A empatia pelo mundo natural nasce da experiência direta. A criança sente que pertence, e pertencendo, cuida.

Por isso, contemplar a natureza é um ato de educação integral. Forma o corpo, a mente e o espírito. Une ciência e sensibilidade, conhecimento e empatia.


O papel dos adultos

Pais, professores e cuidadores têm um papel essencial: proteger o instante do espanto. Em vez de correr para explicar, precisamos aprender a esperar junto. Em vez de apressar, precisamos sustentar o silêncio. Porque é nesse espaço de calma que a curiosidade desponta.

Ofereça à criança momentos sem pressa:

  • Uma caminhada no jardim ao entardecer.

  • Um tempo de observação na janela, vendo a chuva cair.

  • Um cantinho da natureza na sala de aula, onde ela possa cuidar de uma planta, registrar e observar.

Esses gestos simples são mais transformadores do que qualquer discurso. É neles que a Ciência, a empatia e o autoconhecimento se encontram — e fazem da infância um campo fértil para o desenvolvimento humano.


Convite à contemplação

Na próxima vez que estiver com uma criança, não diga nada por alguns minutos. Apenas observem juntos. O vento, a água, uma folha, uma formiga, o céu. Veja o que ela percebe. Veja o que você sente.

E depois, pergunte:

“O que você descobriu sobre o mundo hoje?”

Esse é o primeiro passo da Ciência. E talvez, também, o primeiro passo para nos tornarmos seres humanos mais conscientes, sensíveis e inteiros.

Ensinar uma criança a contemplar a natureza é ensiná-la a pensar, a sentir e a cuidar. É educar o coração e a mente ao mesmo tempo. É preparar uma geração capaz de unir razão e emoção — para que o mundo volte ao equilíbrio natural que originou a biodiversidade atual.

A Ciência começa na contemplação da natureza.

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Texto inspirado em reflexões sobre as ideias de educadores que perceberam a importância do contato com a natureza para o desenvolvimento integral da criança.


Carlos Eduardo Godoy (Prof. Amparo)

Biólogo, Professor,

Escritor e Ilustrador

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