Desenho Universal de Aprendizagem
- cecgodoyviagem
- 4 de mar.
- 4 min de leitura

Desenho Universal de Aprendizagem - DUA
Em uma sala de aula de Ciências da Natureza, as crianças não apenas ouvem ou copiam conteúdos, mas investigam, exploram, questionam e constroem suas próprias explicações sobre o mundo natural. Elas formulam perguntas, testam hipóteses, observam fenômenos e registram suas descobertas.
O professor, nesse cenário, não é o único detentor do saber, mas o curador e facilitador de um percurso investigativo onde cada aluno tem seu próprio jeito de aprender, participar e contribuir.
Para garantir que todos os alunos participem ativamente dessa jornada investigativa, independentemente de suas habilidades, ritmos ou formas preferidas de aprender, o Desenho Universal de Aprendizagem (DUA) é uma ferramenta essencial. Ele garante que as portas da investigação científica estejam abertas para todos.
Como o DUA orienta uma sala de aula investigativa
O DUA parte da ideia de que a diversidade não é exceção – é a norma. Cada aluno tem seu próprio jeito de acessar informações, investigar o mundo, organizar suas ideias e comunicar suas descobertas.
Para que o conhecimento científico seja realmente construído pelos alunos, o professor precisa planejar um ambiente de investigação acessível, onde todos possam explorar, registrar e comunicar suas descobertas de maneiras compatíveis com suas habilidades e interesses.
O DUA organiza essa flexibilidade em três princípios fundamentais, que se aplicam diretamente ao planejamento de aulas investigativas de Ciências da Natureza.
1️ - Múltiplas formas de apresentação – Diversos caminhos para acessar o fenômeno
Nas aulas investigativas, apresentar o conteúdo não significa explicar tudo de uma vez, mas sim criar situações-problema, contextos e pistas que despertem perguntas e orientem os alunos em suas investigações.
Um vídeo inicial pode levantar questões sobre os papéis dos seres vivos em um ecossistema.
Uma imagem de uma floresta com diferentes seres vivos pode servir de ponto de partida para observações.
Um passeio investigativo pelo pátio da escola convida os alunos a identificar e registrar os seres vivos reais do ambiente.
Um conjunto de cartões com pistas (quem é alimento de quem, onde vive, o que precisa para sobreviver) ajuda cada grupo a investigar as relações tróficas (alimentares).
Exemplo em Ciências da Natureza – Teias Alimentares - Os alunos, organizados em grupos investigativos, exploram o pátio da escola com pranchetas, registrando e desenhando os seres vivos encontrados. Depois, recebem pistas visuais e textuais sobre o papel de cada ser na teia alimentar. A partir das observações reais e das pistas, constroem hipóteses e montam suas próprias teias alimentares.
Clareza sobre o DUA - O conteúdo (teias alimentares) é apresentado por meio de múltiplas formas – imagens reais, observação direta, vídeos e textos curtos, sempre como ponto de partida para a investigação, não como explicação pronta.
2️ - Múltiplas formas de ação e expressão – Diferentes formas de registrar e comunicar descobertas
Em uma sala de aula investigativa, cada aluno precisa ter oportunidades diversas para registrar suas descobertas e comunicar suas conclusões científicas. O registro e a comunicação são parte do próprio processo investigativo.
Alguns alunos podem preferir diários ilustrados, com desenhos e legendas explicando suas observações.
Outros criam mapas conceituais, mostrando como as espécies encontradas no pátio se conectam em uma teia alimentar.
Há quem queira gravar um vídeo explicando suas descobertas, simulando um documentário científico.
Outros ainda, podem construir modelos tridimensionais das teias alimentares usando massinha, folhas secas e barbante.
Exemplo em Ciências da Natureza – Teias Alimentares - Após a investigação no pátio e a análise das pistas, cada grupo escolhe como apresentar suas descobertas:
✅ Um grupo monta um mural com fotos e setas, explicando as conexões entre os seres vivos encontrados.
✅ Outro grupo grava um vídeo curto, explicando como a energia do Sol passa de planta para herbívoros e para os predadores.
✅ Um terceiro grupo apresenta uma dramatização, em que cada aluno representa um ser vivo da teia e demonstra as relações em movimento.
Clareza sobre o DUA - Os alunos têm múltiplas formas de expressar suas descobertas, sempre partindo do que investigaram. Eles constroem o conhecimento e apresentam suas conclusões do jeito que funciona melhor para cada grupo.
3️ - Múltiplas formas de engajamento – Diferentes motivações para investigar
A ciência só faz sentido quando se conecta ao mundo real do aluno e às perguntas que ele tem sobre seu próprio entorno. No DUA, o professor propõe diferentes formas de despertar e manter o interesse de cada aluno, respeitando suas curiosidades, suas referências culturais e suas motivações pessoais.
Explorar o pátio e registrar seres vivos transforma o espaço da escola em laboratório de investigação.
Criar uma teia alimentar do bairro, com fotos de seres vivos próximos da casa do aluno, traz a ciência para perto.
Um desafio investigativo, como "o que aconteceria se as abelhas desaparecessem?", provoca reflexão crítica.
Dar autonomia para escolher como comunicar os resultados valoriza o protagonismo infantil.
Exemplo em Ciências da Natureza – Teias Alimentares - Cada grupo recebe um desafio: criar uma teia alimentar de um ambiente específico (pátio da escola, horta comunitária, parque próximo) e explicar como essa teia seria afetada se uma espécie desaparecesse. Os grupos escolhem como investigar (pesquisa em campo, entrevistas com familiares, observação direta) e como comunicar suas conclusões.
Clareza sobre o DUA - Cada aluno se conecta com o conteúdo de forma diferente – pela observação da natureza, pelo desafio lógico, pela criação artística ou pela conexão com sua própria realidade. O engajamento é múltiplo e flexível.
DUA: Investigação científica para todos
Combinando os três princípios do DUA com uma abordagem investigativa, suas aulas de Ciências da Natureza ganham:
✅ Inclusão real – cada aluno participa e aprende do seu jeito.
✅ Protagonismo científico – o conhecimento é descoberto, não entregue pronto.
✅ Conexão com o mundo real – a ciência sai do livro e entra no cotidiano das crianças.
✅ Desenvolvimento de habilidades essenciais – observar, registrar, analisar, argumentar e comunicar são habilidades cultivadas em cada passo da investigação.
Um convite para você, professor
Na próxima vez que for planejar uma sequência investigativa, pergunte-se:
Como posso apresentar o fenômeno de diferentes formas para despertar curiosidade?
Como posso oferecer múltiplas opções para que os alunos registrem e compartilhem suas descobertas?
Como posso criar diferentes gatilhos de engajamento para motivar todos os alunos a investigar?
Com o DUA aplicado ao ensino investigativo de Ciências da Natureza, você transforma cada aula em uma aventura de descobertas, onde cada aluno é cientista do seu próprio aprendizado.
E você, como tem promovido investigações científicas em suas aulas?
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Texto inspirado no livro “Universal Design for Learning in the Classroom: Practical Applications”, de Tracey E. Hall, Kristin H. Robinson, e outros.